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Relato de parto de Daniela Buono - nascimento da Maria Clara

Um parto normal em hospital cheio de emoção e significado, apesar da equipe do hospital e do seqüestro do bebê.

 

Minha filha querida, este é o relato da sua gestação e do seu nascimento.

 

Quando soubemos da gravidez, seu pai e eu resolvemos fazer ir para a Europa comemorar. Eu caminhava o dia inteiro pelas ruas, museus e parques de Londres, Amsterdã, Paris, Barcelona, Granada, Ronda...tinha muito sono, um pouco de dor nas pernas e costas no final do dia, mas consegui passar por tudo na boa. Seu pai estava radiante! Precisava ver o sorrisão dele.

 

Dani Buono

Dia 16 de dezembro, fui ao banheiro e de repente, uma cachoeira!

 

“Caraca!!! A bolsa estorou??!!! Mas tá cedo!” Fui tomada de um senso prático e de uma felicidade incríveis!

 

Veio tudo de vez na minha cabeça: as dicas, as discussões da lista na internet, os temas discutidos com o médico, meu plano de parto, a mala pro hospital que não estava pronta. Fui tomada por uma felicidade incrível!

 

Eu estava com 36 semanas e 3 dias e o bebê ainda era considerado prematuro. O Dr. Marcos disse que havia 80% a 90% de chances de ser um parto normal. Mas pediu que eu fosse pro hospital porque eu estava perdendo muito líquido.

 

Liguei pro seu pai, que foi me encontrar e fomos pro hospital. Entrei no banho e me lembro de me ensaboar com carinho, alegria e satisfação. Eu estava muito feliz!!! Comentei com seu pai: “Flá, parece que estou me preparando pra casar! Tô tão animada, excitada e orgulhosa!!! Tenho certeza de que vai dar tudo certo!!!”

 

Liguei também pra sua avó, que foi lavar as suas roupinhas em casa. Depois ela passou no hospital e me deu um beijo e uma benção. Fiquei muito feliz em vê-la! Nos abraçamos e eu chorei.

 

Eu estava passando por uma coisa que todas as nossas ancestrais mulheres tinham passado para que nós estivéssemos ali naquela noite...eu estava finalmente fechando um ciclo da minha vida, que começou dentro dela, quando me tornei filha dela...

 

Falei com a Cris, minha doula, que me aconselhou a tentar desligar ao máximo e dormir, porque a excitação era pela adrenalina e ela podia atrapalhar a ação da ocitocina, outro hormônio que eu precisava produzir para começar o trabalho de parto.

 

A cólica das contrações era bem forte, mas suportável. Eu agarrava qualquer coisa à frente, respirava mais rapidinho e passava. Dormi um pouco, mas não descansei de verdade. Era impossível com aquelas contrações e as enfermeiras monitorando o coração do bb, minha pressão e temperatura.

 

Pela manhã, nada de novo. Nada do TP engrenar. O Marcos e a Cris me disseram pra levantar da cama, andar e me exercitar. Eu tinha esquecido que dói mais ter contração deitada. Como eu já estava com 18 horas de bolsa rota, perdendo uma quantidade razoável de água, tomei um pouco de soro com ocitocina.

 

Imaginei que fosse dar um salto enorme na intensidade da dor e eu fosse sofrer muito com a introdução da ocitocina. Mas não. Quando o trabalho de parto engrenou, senti um imenso prazer. A música tocando baixinho, as mãos suaves e o doce cantarolar da Cris: “Abre-te, Dani, Abre-te Dani, como as pétalas de uma flor...” foram as maiores dádivas até 5 centímetros de dilatação.

 

Eu ficava andando e quando a contração começava, me debruçava sobre a cama e agarrava um monte de travesseiros. Eu sentia dor, mas também sentia prazer e muita emoção. Sentia que a cada contração, uma força maior me atravessava e ia me conectando a todas as minhas ancestrais mulheres, como se elas tivessem me contando um segredo.

 

 

Eu sempre imaginei que existisse muita magia no ato de parir...e tinha mesmo!

 

Ah, meu Deus, que milagre! A vida está plena e pulsando intensamente dentro de mim! Procurava toda hora os olhos do Flá, como se precisasse passar um pouco daquela energia pra ele... numa das vezes a câmera estava ligada e gravamos minha declaração de amor ao TP: “Estou absurdamente emocionada e feliz!”

 

Minha mãe me olhava com amor. Ela parecia assustada, mas tentava não demonstrar. Comecei a chamar “Manhêêêê!” Acho que ajudou. E acabei me distraindo com aqueles pensamentos sobre ela e o meu próprio nascimento...

 

E aí a coisa apertou. A dor aumentou muito e eu já não achava mais posição. Não conseguia mais parar de pé, nem debruçada, nem agachada, nem sobre a cama...os gemidos aumentaram e o médico perguntou sobre a anestesia, mas eu resolvi agüentar firme. Fui para o chuveiro.

 

Algo sobrenatural aconteceu lá. Eu sentia que tinha virado bicho. Eu não era mais um ser racional, era puro instinto! Eu estava concentradíssima em me abrir, me abrir, me deixar abrir pro neném passar...e repetia inúmeras vezes pra mim mesma baixinho que eu estava me abrindo, me abrindo...e via o meu colo, a minha vagina e minha vulva se abrindo, se abrindo...

 

De repente eu disse: “Tô com vontade de fazer força!”. Em uma hora, a dilatação evoluiu de cinco para oito centímetros. Fui pra Suíte de Parto, mas tive que deixar minha mãe e a Cris porque só podia entrar um acompanhante e na Promatre não podemos ter uma doula. Bem, fomos eu, o Flá e a equipe do Marcos. Testamos umas posições da super-híper-cama-cadeira-cheia-de-truques e eu me ajeitei de cócoras. A dor estava muito intensa e parecia que não havia mais intervalos entre as contrações.

Finalmente, depois de 50 minutos, dilatação total!!!

 

Ouvia as instruções sobre respirar, segurar, fazer força, mais força e soltar o ar. Ficava repetindo baixinho essa frase, como um mantra. Também contava: 1, 2, 3, 4, 5,louca pra chegar no 40 e poucos, porque era a duração da contração.

 

Numa determinada contração senti o anel de fogo, o bebê passando pela vagina e percebi que tinha chegado a hora de sair. Fiquei super animada e fiz o dobro de força. Na próxima, o dobro e mais um pouco, até que dei um urro gutural pra conseguir fazer a força necessária e senti um enorme alívio: passou a cabecinha e em seguida o corpinho da minha nenê querida!

 

“Nasceu!! Nasceu a nossa filha!”, disse seu pai, super emocionado.

 

 

 

Você tinha uma circular de cordão, mas estava bem acordada, de olhões arregalados e chorinho esperto. Apgar 9/10, 2.750 kg e 47cm.

 

Veio direto pros meus braços, quentinha, melecada e esbranquiçada, murmurando uns unhézinhos de neném. Eu fiquei pasma! Só me lembro do seu rostinho pertinho do meu. Ficou tão quietinha só prestando atenção. E ficamos lá, eu, você e seu pai num silêncio de êxtase e descobrimento.

 

 

Foi absolutamente incrível!

 

E daí começa a parte chata. Nem deu tempo de pensar em mamar e a enfermeira-chefe-mala puxou a nenê do meu colo pra pesar, medir e enrolar naquele charuto. O Marcos e a assistente dele começaram a dar pontos no períneo que lascerou. Senti muita dor, uma dor chata que me incomodou muito mais que a dor das contrações ou do expulsivo.

 

Eu perdi contato com o que estavam fazendo com a Maria Clara porque estava sentindo aquelas dores insuportáveis dos pontos. O Flávio nem se ligou e não falou nada sobre a vitamina K, colírio e aspiração nasal. E a neném levou todas...

 

Depois, ela veio só mais um pouquinho pro meu colo, mas não mamou. Me disseram que ela não tomaria o banho com o papai porque era “prematura” e precisava ir para a pediatria o mais rápido possível.

 

“Ai gente, vocês estão estragando tudo! tão acabando com o meu momento!”, reclamei. Mas não adiantou nada. A magia se foi, perdi o controle sobre o que estava acontecendo...e fiquei ali de pernas abertas.

 

Maria Clara foi lá fora no colo do pai. Eu tava com uma fome e sede de leão. Comi o lanchinho do hospital como se fosse uma picanha suculenta. Depois de 1 hora me levaram pro quarto.

 

Abracei minha mãe com força e chorei. Agradeci por ter nos dado a vida!

 

Que vida boa! Como eu estava feliz! Aliás, nunca fui tão feliz!!!

 

Maria Clara chegou no quarto depois de um tempo. Estava tudo bem. Ela mamou e ficamos namorando durante horas. Todos se foram e ficamos os três: mamãe, papai e neném. Que delícia! Que amor! Como ela é linda!!!

 

Dani Buono

Orei aos espíritos de luz que nos acompanharam durante aquele longo e maravilhoso dia: “Obrigada Meu Deus e Minha Grande Mãe Natureza pela força, pela alegria e pela graça deste maravilhoso parto!”

 

Dormimos satisfeitos e felizes com a missão cumprida. E acordamos, duas horas depois, com o primeiro chorinho e a primeira mamada só entre nós...

 

 

Daniela Buono 

São Paulo - SP

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