top of page

Relato de parto de Edwiges Figueiredo, nascimento da Maria Clara

Um longo trabalho de parto. Tentativa de parto normal que terminou em cesária.

 

No sábado, dia 22 de Outubro de 2005, eu estava ótima, tranqüila e almoçando bem tarde com o Sergio, meu marido. O meu obstetra, o Dr. Mário havia previsto o nascimento da Clarinha para o domingo. Eu até tinha uma consulta dia 24, mas ele comentou comigo que eu poderia nem ir, porque estaria ocupada dando de mamar.... Hehehehe, quando saí da sua sala, ele falou para mim: “Até domingo!” Que língua!!

 

Estávamos na expectativa do final de semana. Eu havia sentido cólicas durante toda a semana e já sabia que isso era sinal que alguma coisa estava acontecendo no colo do útero.

 

Passei uma gravidez ótima. Tirando os incômodos do primeiro trimestre e o acidente de carro no 4º mês, viajamos para Fortaleza no 6º mês e não tive problema algum, pelo contrário, subi em bugre, desci de bugre, subi duna, desci duna, também entrei no mar à noite, fantástico.

 

No sábado, eu estava tranquilamente escrevendo no livro de recordações da Maria Clara, sentada na cama. Lá pelas 14h30min fomos almoçar. Não costumamos acordar cedo no final de semana. Não havia sentido nada ainda de contrações. Somente as tais cólicas. Eu já sabia também, que na maioria dos casos, as contrações verdadeiras começam como dores na coluna lombar. Como estava praticamente na DPP (data provável do parto) - 26/10, eu já havia lido e relido o capítulo do livro “O que esperar quando se está esperando”, sobre o falso e verdadeiro trabalho de parto. Sabia também que as contrações verdadeiras são ritmadas.

 

Bem, às 14h50min, olhei para o relógio da cozinha, havia sentido uma dorzinha nas costas... Ela durou alguns segundos e foi embora. Fiquei alerta, estava com 39 semanas, entraria na 40ª semana em alguns dias, a Maria Clara era um bebê a termo, ou seja, pronta para nascer a qualquer momento. Às 15h, eu estava deitada na rede do meu quarto e o Sergio no computador, quando senti, mais uma vez, a tal dorzinha nas costas. Olhei para o relógio e falei:

 

“-Anota aí, Sergio: 14h50minh e 15h”.

 

“-Jura?”

 

A partir desse momento, as contrações vieram de 10 em 10 minutos, totalmente ritmadas, duravam cerca de 20 segundos e eram bem suportáveis. O Sergio anotava para mim: elas vieram às 15h10min, 15h20min e por aí. Coloquei o relógio de parede da cozinha no quarto e fiquei monitorando os intervalos e o tempo de duração delas.

 

As 17h, as contrações já estavam de 8 em 8 minutos e durando cerca de 40 segundos. Ainda não era forte. Telefonamos para a Geisi e para a Ingrid, minhas doulas. Logo depois telefonamos para o médico. Eu queria avisar que mesmo não sentindo dor forte, estavam muito ritmadas. O Dr. Mário pediu que esperasse mais um pouco e telefonasse para ele caso aumentasse a intensidade.

 

Era muito bom, sinceramente dava até gosto sentir as contrações e saber que a Maria Clara estava bem perto de chegar. Também era divertido contar os minutos e ver como a contração era tão certinha, ela vinha exatamente no tempo. Eu e Sergio descemos um pouco para eu caminhar, ficamos dando voltas no estacionamento porque eu não queria andar na rua. Às 19h me telefonou o Dr. Mário, o que eu achei fofo da parte dele. Queria saber de mim. Falei que as contrações ainda eram fracas, mas estavam com a duração maior e os intervalos menores e ele me pediu que eu fosse para a Perinatal ser examinada. Conforme fosse, ficaria lá ou voltaria para casa.

 

Lá fomos nós, eu e Sergio tomar banho. O Sergio ria, uma mistura de nervoso e alegria, eu estava tranqüila. Minha sogra, Olga, também foi se arrumar para ir conosco. Ela já estava na expectativa também há muito tempo. As bolsas já estavam arrumadas, só faltava colocar as últimas coisinhas, acabei colocando coisas demais. Não achei meu relógio de pulso, precisava de um relógio com ponteiros, mas não achava e não achei até hoje... Aí enfiei a mão no relógio de parede da cozinha e coloquei na bolsa!!! Hehehe... Doidinha! Detalhe... nem olhei para ele na maternidade.

 

Saímos de casa umas 21h e rapidamente chegamos à Perinatal em Laranjeiras, em menos de 30 minutos. Na ida, terminamos de rezar o terço pedindo a intercessão de Nossa Senhora do Bom Parto; estávamos certos que eu iria ficar porque as contrações estavam ritmadinhas demais.

 

Chegando lá, entrei na maternidade toda sorridente. Meu sonho era já estar com uns 6cm de dilatação!!! Hahahahaha, aí seria meio caminho andado... Eu quase não tive as contrações de Braxton-Hicks (contrações indolores onde se sente a barriga endurecer) que já são preparativos para o parto, o que eu realmente sentia era a cólica no baixo ventre.

 

Fomos todos para a sala de exame, a médica plantonista já estava me esperando. Ela tinha sido avisada pelo Dr. Mário que eu estava a caminho. Ela tinha uma carinha de quem estava no segundo grau, mas era uma simpatia só. Fizemos o exame de cardiotocografia e o coraçãozinho da Maria Clara estava ótimo. Aí ela foi fazer o tal do toque, muito ruim aquilo!!!!!! E a pergunta que não queria calar:

 

“-Quanto de dilatação???”

 

“-Você está com 1cm de dilatação...”

 

Quase caí para trás, as contrações já não eram tão fraquinhas e eu AINDA estava com 1cm de dilatação???? A médica me orientou a voltar para casa já que eu queria parto normal. Disse que era assim mesmo e falou duas coisas que não esqueço e ainda morro de rir: ela falou que o bebê nasceria só na segunda-feira e também disse que dava tempo de IR A SÃO PAULO E VOLTAR!!!!!!!!!!!!!

 

Voltamos para casa, e dentro do carro, comecei a sentir a contração mais fortinha. Ela estava se intensificando, já não daria para dormir com aquela dor. Imaginei como aquela noite não seria longa. Deixamos Dona Olga em casa e fui com Sergio querido fazer sabe o quê? LANCHAR NO HABIB’S!!!! Eu e ele estávamos morreeeeendo de fome, não havíamos jantado porque fomos direto para a Perinatal e já eram 23h. Nós dois, roxos de fome, fomos para o Habib’s felizes da vida.

 

Algumas pessoas nos telefonaram como a Ingrid. Ela me disse que bom que eu já estava com dor mais forte, isso significaria que seria mais rápido (Grrrrr). O Pedro também telefonou quando estávamos lanchando e na hora que veio uma contração. O Sergio falou para ele:

 

“-A Didi? A Didi tá bem, tendo contração e dando soco na mesa.”

 

Foi isso mesmo, eu estava em pleno trabalho de parto e estava lanchando calmamente no Habib’s. Como dava tempo de ir a São Paulo e voltar...hehehe... Pedi um beirute enorme e dividimos um sundae. Quando vinha a contração eu esmurrava a mesa ou então, levantava porque não tinha condições de ficar sentada. Aí o Sergio me vira para um garçom e fala com o maior sorrisão:

 

“Sabia que ela está em trabalho de parto?”

 

Que raiva!!! O garçom me olha curioso, achando que era brincadeira e eu dei um sorrisinho por educação, querendo matar o Sergio.

 

Voltamos para casa e eu não via a hora de chegar. Já estava andando devagar e chegando lá, me joguei na cama, tentava as posições que poderiam aliviar, tipo agachar, andar em casa, mas não dava, já estava ficando forte demais. Falei para o Sergio que tinha que fazer massagem ou contrapressão na lombar para ajudar a aliviar a dor. Que pena que ele não leu nada sobre o trabalho de parto: teria ajudado mais e ficado menos perdido. Às vezes ele fazia massagem no lugar errado o que me deixava extremamente irritada... rsrsrsrsrs.

 

Fui para o chuveiro quente, que eu sabia que aliviava. Deixei a ducha bater bem onde doía e como aquilo aliviou!!!!! Nesse momento eu já chorava de dor e também me achava uma besta ter inventado esse negócio de parto normal!!! Com muita dor, você joga no telhado todos os seus conceitos e teorias. Eu já achava que a cesariana era a oitava maravilha do mundo... hahahahahahaha...

 

Pelo telefone, a Ingrid orientava a esperar mais um pouco. Quanto mais tempo ficasse em casa era melhor e eu sabia disso também. Já era 02h30min da manhã do domingo e estava doendo para *** e olha que eu odeio palavrão!!! É porque estava doendo meeeeesmo. Eu não imaginava que era tão resistente. Eu falava para o Sergio que não acreditava que nada estava acontecendo. Como não, se estava doendo tanto?

 

A essa altura do campeonato, eu já urrava de dor e as contrações vinham de 3 em 3 minutos e tinham duração de 1 minuto mais ou menos.

 

De madrugada, o Sergio telefonou novamente para o Dr. Mário, que orientou VOLTAR para a Perinatal. Como assim??? Não dava tempo de ir a São Paulo e voltar? Comédia total, não é? Só se fosse ida e volta de avião...

 

Bem e lá fomos nós, as 03h30min da madrugada pela Avenida Brasil afora. Dessa vez, a viagem foi punk porque ter contração sentada no banco de um carro e com cinto de segurança.... Sem poder se mexer ou se movimentar.... Dá para ter uma idéia? No caminho, telefonamos para a Ingrid. Falei para o Sergio dizer para ela que se ela não chegasse rápido na maternidade, eu ia acabar fazendo uma cesárea eletiva.

 

Chegamos à Perinatal, eu estava bem diferente, com uma cara de “chama logo a médica AGOOOOOOOOORA!!” e lá veio ela, eu já estava com muita dor e tive que repetir o tal exame que tinha feito antes. Não tinha como duvidar, eu estava em pleno trabalho de parto dessa vez. O Sergio ficou na recepção fazendo a minha internação e subi para o quarto com um segurança carregando minhas bolsas. Eu estava com cara de poucos amigos, o coitado devia estar com uma vontade de sair correndo, me deixou no quarto e sumiu. Eu entrei banheiro adentro, abrindo o chuveiro, já ia me enfiar debaixo da água quente de novo quando vi que não esquentava. Nessa hora chegou uma enfermeira que me deu aquela linda camisola aberta atrás, ventilada... (ihihih) e pediu para eu tirar tudo: aliança, cordão, brinco, etc. Lembro dela falar:

 

“Você está com contrações muito boas!”

 

É porque não era nela!!!!! Perguntei pela água quente recebo a seguinte resposta cândida:

 

“Ahhh, a noite eles desligam...”

 

Quase chorei, mas quando o Sergio entrou no quarto, falei para ele ir resolver isso e na mesma hora veio um homem dos serviços gerais e colocou água quente para mim. Maternidade-hotel tem disso! Me joguei debaixo da água quente, além de me acalmar, aliviava em 50% a dor.

 

Aí chegou meu anjinho, Ingrid Lotfi, minha doula, veio dirigindo correndo de Jacarepaguá para Laranjeiras e segundo ela, quase matou dois no caminho. Quando ela chegou, eu estava no chuveiro, rapidamente a Ingrid encheu a bola suíça para eu sentar, eu não imaginava como aquela bola relaxava e aliviava as contrações... Depois ela sentou atrás de mim e começou a fazer massagem na minha lombar com um óleo. Sua calma e segurança foi importante para mim e para o Sergio. Sinceramente, não imagino mais um trabalho de parto sem a presença de uma doula.

 

Voltamos para a Perinatal na madrugada de sábado dia 22 para domingo dia 23. Esqueci de contar na primeira parte do relato que quando cheguei à maternidade pela segunda vez, fui novamente fazer o exame para saber quanto de dilatação eu estava e ... apenas 2 cm. Nossa!!! E eu já estava sentindo dor... Achava que já poderia estar com uns 4 cm pelo menos!

 

A enfermeira do 5º andar, já que fiquei no quarto 511, me viu com contração e falou que elas (as contrações !!) estavam ótimas e me sugeriu DEITAR (há há há) do lado esquerdo. Só não falei que ela estava louca porque realmente ela tinha boas intenções. Imagina ficar imóvel com contração! E a orientação que eu tinha era de caminhar e agachar, nunca ficar parada.

 

Quando a minha doula, a Ingrid, chegou por volta das 4h da manhã, eu estava no chuveiro quente (para quem quiser saber melhor o que é uma doula: www.doulas.com.br) e eu digo para todo mundo que graças a Deus ela estava lá; com calma, técnica e simpatia. Chegou toda equipada, diminuiu a luz do quarto, encheu a bola suíça, tirou um óleo da bolsa e começou a fazer uma milagrosa massagem na minha coluna lombar, falando baixinho e mansamente. Eu não poderia nunca imaginar como algo tão simples daria tanto resultado e me acalmei na mesma hora.

 

Minutos depois chegou Dr. Mário, ele abriu a porta abruptamente e quando viu a doula, relaxou porque eu já estava sendo atendida. Lá fui eu para um novo exame de toque, para saber a quantas andavam a bendita e até aquele momento, temida dilatação... E qual foi a minha surpresa quando 1h depois de ter chegado à maternidade, a dilatação pulou de 2 cm para 4cm!!! Vi o sorriso do médico e um gritinho da doula de alegria. Também sorri e fiquei muito mais confiante. Logo depois estaria descendo para a famosa SALA DE PARTO HUMANIZADO da Perinatal.

 

E lá fomos nós todos, eu andando beeeeeeem devagar. Nessa hora, eu estava tão concentrada na contração que ainda não tinha caído a ficha que minha filha ia nascer!!! Entramos, eu e Ingrid na sala onde temos que trocar de roupa e vestir aquelas maravilhosas camisolas ventiladas na parte de trás (hehehe) e colocar a touca na cabeça e calçar os sapatinhos que, acho eu, também servem de touca...

 

Eu estava achando ótimo. A maternidade era toda só para mim, não havia mais ninguém em trabalho de parto. Também! Era a madrugada de sábado para domingo e ninguém marca cesárea em um domingo, dia da votação do Referendo sobre armas de fogo, de madrugada. Eu estava em uma maternidade particular, considerada a melhor do Rio de Janeiro e, além disso, em um país que é o primeiro no ranking de cesáreas do mundo... mas... para a minha sorte, na tal maternidade particular, há uma sala de parto com uma CADEIRA DE CÓCORAS!!!! Claro que eu não ia ficar na posição horizontal! Quanto mais vertical melhor, para ajudar a descida do bebê com a gravidade. Afinal, a posição horizontal só é boa para o médico.

 

O mais engraçado foi a cara de curiosidade da enfermeira do setor quando viu a Ingrid enchendo de novo a bola suíça... A moça olhava com os olhos compriiiiiidos, disfarçava, olhava de novo... Aí, depois de entrar e sair várias vezes da sala, ela não se conteve e perguntou para que servia aquilo. Depois foi a mesma coisa quando a Ingrid pegou a bolsa térmica e pediu água quente. Ficávamos eu e Ingrid trocando olhares e achando muito engraçada a falta de informação da enfermeira. Infelizmente, a maioria dos profissionais é de formação muito técnica. Quando chega alguém para ajudar na humanização do parto, acham esquisito.

 

E como era a sala de parto humanizada? Bem, era realmente bem diferente de uma sala de parto hospitalar comum. Tanto que eu perguntei se na hora do nascimento, mudaríamos de sala. Lembro da resposta da Ingrid: “Não, você vai ter seu bebê aqui.”; Nesse momento, a ficha estava começando a cair. Eu teria meu bebê, estava prestes a ter um bebê... Meu Deus do Céu! A sala é pintada com cores pastéis e é decorada de forma que parece um quarto de hotel. Tem uma cama que não parece em nada uma cama de hospital, que apertando um botão aqui e outro ali, vira uma cadeira de cócoras. Além disso, no banheiro tem uma banheira de hidromassagem, onde muitas mulheres tiveram seu parto na água. Que pena que não deu tempo de aproveitar a banheira... No quarto também tem um som para colocarmos música ambiente, mas eu não pensei nisso. Acho que como eu estava, eu ia era xingar a música e mandar desligar!!! É tão diferente que quando minha cunhada entrou na sala, ela falou rindo: “que ‘salinha’ é essa?”.

 

O Sergio aprendeu como fazer a massagem na lombar que aliviava a dor e era muito bom porque ele tinha muito mais força do que a Ingrid. A massagem era bem onde doía. Confesso que tinha momentos que a contração era mais tranqüila e outras que, Deus me livre! Nesse momento, eu estava sentada na minha amiga bola suíça com os dois, Sergio e Ingrid sentados no chão atrás de mim. Quando vinha uma contração forte e o Sergio não fazia a massagem direito, eu começava a xingar : “Não é aíííí!!!!! Mas que droga, não sabe fazer nada direito!!!!”; percebi um silêncio atrás de mim, era a Ingrid gesticulando e fazendo sinal com as mãos para o Sergio, dizendo pra ele “deixar para lá, que era assim mesmo”, ou seja, as grávidas em trabalho de parto xingam até a quinta geração de seus amados maridinhos.

 

A Ingrid dizia que eu era uma “grávida religiosa” porque quando vinha uma contração forte, eu ficava repetindo: “Jesus, Jesus, Jesus”, às vezes era: “Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus” e também tinha horas que era: “Misericórdia, misericórdia, misericórdia”, heheheheheheehe.

 

Algumas vezes a contração vinha tão forte que eu fechava os olhos e dizia “não, não, não...”. E a Ingrid falava: “Não Edwiges, é SIM!!” Aí eu trocava para “Sim, sim, sim...” hehehehe

 

Bem, só sei que nessas horas já devia ser umas 6h da manhã quando o meu obstetra veio fazer um novo exame de toque. Eu já estava com quase 6cm de dilatação agora. Estávamos todos animados em ver como a dilatação estava evoluindo tão bem, havia passado da metade, faltava pouco. Como sempre fui a favor da analgesia no parto, eu perguntei para o médico quando poderia tomar a anestesia, afinal eu estava com dor forte desde as 23h do sábado e já era 6h da manhã do domingo. O Dr. Mário me olhou e falou que já dava para tomar a anestesia e foi música para meus ouvidos escutar ele falar para a enfermeira: “Chama lá o Norival”. O Dr. Norival foi meu anestesista e pai de um grande amigo, o Pedro.

 

Quando chegou o anestesista, eu perguntei logo pelo Pedro e me apresentei como amiga do filho dele, afinal estava esperando-o para assistir o parto também. Quando o Dr. Norival falou que ia telefonar para o Pedro para avisá-lo que eu estava já na sala de parto, eu falei na mesma hora: “Tudo bem, mas o senhor vai primeiro me dar a anestesia, tá???” Nem preciso dizer que todo mundo caiu na gargalhada.

 

Bem, tomar a anestesia não é nada agradável, parece que a gente enfia o dedo na tomada e toma um choque. A sensação foi exatamente essa. Mas, logo depois, a sensação é a melhor do mundo, quando a dor não é mais sentida. Conversei com o obstetra que a dor da contração era muito forte, mas não era desesperadora como pintam por aí. Sinceramente, falo com todas as letras: DÓI, mas nada que não seja totalmente suportável. O médico falou que eu era bem resistente à dor. Fiquei assim, literalmente no céu, um bom tempo, papeando, jogando conversa fora com o Sergio, a doula e o anestesista, falando de mil coisas, rindo e falando de planos de telefonia celular, ninguém merece!! Marido que trabalha na Oi fala nisso até quando a filha está prestes a nascer...

 

Quando estávamos assim, no maior papo, chegou a minha cunhada Sheyla, médica pediatra. Ela entrou, olhou para a sala de parto humanizada e quando viu tudo bonitinho e pintadinho falou rindo, como já falei: “Gente, que ‘salinha’ é essa?” Logo depois dela, chegou o Pedro, nosso amigo, médico e filho do anestesista. Deve ter vindo correndo de casa depois que o pai ligou para ele. Assim, havia uma platéia para assistir o parto da Maria Clara, além da equipe médica, que também era muito grande. Minha cunhada e o Pedro em nada atrapalharam, mas se eu pudesse voltar atrás, teria expulsado aquela equipe médica enorme da sala, porque era muita gente olhando para a minha cara e isso não foi nada bom.

 

Novo exame de toque!!!! 8 cm de dilatação!!! Muito perto!!! Nesse momento, havia um entra e sai de enfermeiras, o que eu hoje, vejo como um ponto muito negativo. Eu não queria que tivesse sido assim, como outras coisas que não gostei e vou contar. Depois do exame, o médico pegou uma comadre e veio com uma espátula enooorme que ia afinando na ponta. Eu na mesma hora percebi o que ele ia fazer e vi o Sergio me olhando com uma interrogação estampada no rosto. O que ele ia fazer? Falei para o Sergio que o médico ia estourar a bolsa que até aquele momento não havia rompido. Estava sendo um trabalho de parto perfeito até aquele momento: nada de soro com ocitocina na veia, que aumenta as contrações deixando-as insuportáveis para quem não toma anestesia. Também a contração é muito mais forte quando a bolsa rompe no início do TP (Trabalho de Parto), o que não foi o meu caso.

 

Quando o médico rompeu a bolsa, quase não saiu água porque a Maria Clara estava bem encaixadinha. Faltava muito pouco para se completar a dilatação, o médico toda hora, monitorava o coraçãozinho da Clarinha e a expectativa era grande. Até esse momento eu estava ainda muito calma. Minha cunhada falava: “Vamos Maria Clara! Sai logo daí”, e o médico brincava falando que ele ainda teria que votar naquele dia, porque era o dia do Referendo sobre as armas de fogo.

 

Quando chegou a 10 cm, dilatação total e completa, começaram a arrumar o local, e a tal cama onde eu estava confortavelmente deitada se transformou em uma cadeira de cócoras. Trouxeram aquela caminha onde a pediatra examina o bebê pela primeira vez e acenderam uma luz super forte na minha frente, era um holofote aquilo! Olhei desesperada para a Ingrid, eu não queria luz forte em cima da minha filha quando ela nascesse. Imediatamente, a Ingrid falou com o médico que mandou a enfermeira desligar o “holofote”. As enfermeiras que estavam ali eram curiosas, uma delas era muito simpática e saiu correndo para chamar o médico quando falei que estava incomodada com vontade de fazer força para baixo. Era a Maria Clara muito perto de clarear.

 

Toda a equipe se preparou, o obstetra, o anestesista, o médico auxiliar, o instrumentador, a pediatra (esperando sentada porque poderia demorar, como demorou), as enfermeiras, a doula de frente para mim, Sergio do meu lado, Pedro super discreto na porta do banheiro e minha cunhada encostada na parede atrás de mim. Lembro de tudo mesmo!!!! Nesse momento, me deu pela primeira vez um frio na barriga, aí eu fiquei um pouco nervosa e comecei a mexer no meu cabelo, de um lado para o outro... Sim, havia realmente uma platéia. O médico e eu começamos a ensaiar como se fazia força, ele dizia que teria que ser uma “força comprida”. Entendi e comecei a treinar, acertei em cheio como fazia; recebi um elogio dele, disse que eu era boa para fazer força. É engraçado isso, aprender como se faz força porque assim, evita gastar energia à toa. E energia é o que mais precisamos nessa hora. Ainda mais eu, que estava 24h acordada e quase 12h em trabalho de parto (7h com contração forte).

 

Vi o Pedro atender o celular! Mal sabia eu, que a Geisi, minha amiga enfermeira, estava se aventurando para tentar entrar na sala de parto, dando uma de 007. Ela conseguiu entrar escondido na sala de vestimentas da Perinatal, trocou de roupa, colocou a roupa do centro cirúrgico, tudo escondido!!! Ainda conseguiu uma chave e guardou as coisas dela em um dos armários... Sem nenhuma enfermeira de lá ver. Quando ela estava pronta, telefonou para o Pedro perguntando onde estávamos, falando bem baixinho para não ser descoberta. Depois me contou que o Pedro respondeu: “Onde você está sua maluca?” e ele foi ao encontro dela, mas infelizmente, ela foi barrada por uma enfermeira que chegou bem na hora... Mas voltou para o berçário e presenciou a chegada da Clarinha por lá. Até eu queria estar lá também, ihihihihi, porque foi emocionante.

 

Enquanto isso, os e-mails pipocavam na internet nas duas listas que eu participo: PUR-RJ, onde sou vice-coordenadora estadual e Esposas Chics. A expectativa do nascimento da Maria Clara era enorme.

 

Começamos o expulsivo. De fato, eu não sentia a dor da contração e nem a contração. Dr. Norival colocava as mãos na minha barriga e dizia quando eu precisava fazer a tal força comprida. Eu precisava fazer a força junto com a contração, havia uma barra de ferro na minha frente. Era muito bom. Além de eu estar bem sentada e confortável, bem vertical, eu ainda tinha essa barra para me segurar e ir mais para frente. Fiquei imaginando como seria fazer força com dor da contração ao mesmo tempo... Eu não tenho noção do tempo que ficamos nessas tentativas. Lá pelo meio do tempo em que ficamos no expulsivo, eu senti muita sede e pedi água, na verdade perguntei se poderia beber água. Eu esqueci que aquela proibição em relação a se alimentar em TP não existia para mim. Meu médico me liberou para comer e falou até para eu levar um chocolatinho, o que eu nem me lembrei. Poderia ter me ajudado muito. Quando pedi a água, imediatamente o médico falou: “Não quer um cafezinho?” e o outro: “Um refrigerante?”; senti-me tão paparicada... hehehe... Preferi a água mesmo e o Dr. Norival me deu na boca!

 

Só sei que à medida que o tempo passava e a Maria Clara não nascia, os sorrisos foram se apagando, aquela alegria de que estava tudo “redondinho” foi diminuindo e eu mesma estava começando a me sentir meio impotente. O Sergio, do meu lado, me dava a maior força, quando eu o olhava entre uma tentativa e outra, via que se ele pudesse, trocava de lugar comigo. O clima começou a ficar tenso, havia uma enfermeira que me olhava com uma cara que traduzia: “até quando ela vai resistir?” Só quem me olhava sorrindo e fazendo sinal de que eu estava indo bem foi a Ingrid, minha doula “forever”. Eu a olhava com sede de informação de como estava o expulsivo e ela sorria e fazia sinal de tudo bem com as mãos. Claro que não estava tudo tão bem, mas ela me deu força e incentivou até o final.

 

Nesse momento, eu pensei em muitas coisas, pensei em Nossa Senhora, sem anestesia, dentro de uma gruta cheia de animais, tendo o Menino Jesus; pensei em minha avó materna Edwiges, que não conheci e que teve seus filhos em casa, no interior do CE. A sensação foi de união com toda a natureza, com todas as mulheres do mundo, com todas as minhas ancestrais. Foi um momento mágico onde é difícil traduzir a experiência maravilhosa do parto normal e como é enriquecedor vivê-lo, como fortalece e como nos leva lá no fundo da nossa essência feminina.

 

Mas, a Clarinha não se mexia... Ela estava em uma posição considerada difícil, mas que não anula em nada a possibilidade de nascer de parto normal, ela estava posterior e com dorso à direita. O anestesista tentou ajudar com a Manobra de Kristeller, onde outra pessoa empurra a barriga com o antebraço e junto com a contração, se faz a força. Caramba!! Não foi nada agradável... Mas, o obstetra falou: “o bebê nem se mexeu”. O outro médico tentou ajudar, ele era bem maior e mais forte, eu pensei: “esse cara vai me quebrar”, fizeram várias tentativas com a Manobra de Kristeller e eu me esforcei ao máximo, mas a Clarinha não saía do lugar de jeito nenhum. A Ingrid chamou o Sergio para ver o cabelinho dela que já dava para ver lá de dentro. Foi uma pena, porque um pouquinho mais só, ela nasceria... Mas ela não se mexia! Realmente, eu não tenho noção do tempo que tentamos. Lembro do Dr. Mário falando para mim: “Edwiges, nós vamos tentar mais uma vez, se ela não nascer, vamos fazer cesárea. Não vamos arriscar, o bebê pode estar sofrendo.”. O meu sonho era o parto normal, mas naquela hora, eu não me importei e até dei Graças a Deus. A Ingrid ainda tentou opinar sobre alguma posição, mas o médico não quis tentar e eu estava tão cansada que a escutei falando; “Força, Edwiges...”, mas queria mesmo era ir para a cesárea. Eu que estava muito cansada, não fazia diferença mais, queria que a minha filha nascesse. Eu realmente estava esgotada, sem dormir, tinha chegado ao meu limite. Falei para o médico: “Eu fiz o que pude”, não vou esquecer da resposta dele: “Você fez muito mais do que pôde!”.

 

Tentamos mais um pouco e como a Maria Clara continuou imóvel, foi preparado o centro cirúrgico. Fui levada para lá, anestesiada mais um pouco, levantaram aquele pano azul na minha frente, colocaram a caminha onde examinariam a Clarinha pela primeira vez do meu lado. Estavam comigo o Sergio, o Pedro com a máquina fotográfica e a Ingrid. Lembro dela falando para mim: “Agora é rapidinho, em 5 minutos, ela vai estar aqui”.

 

O Sergio depois me contou que, o obstetra, com uma pinça, puxou minha barriga até em cima para ver se a anestesia estava agindo e me perguntou: “Tudo bem, Edwiges?”, e como eu respondi que sim, começaram a cortar. Mal sabia eu que minha barriga estava sendo pinçada e puxada para o alto... Alguns minutinhos se passaram, eu olhava o Sergio espiando por cima do pano azul e escutei quando ele soltou um “haaaaa”, era a Clarinha sendo retirada da minha barriga, escutei um choramingo e logo depois, um chorinho mais forte. Antes de qualquer coisa, a enfermeira trouxe a Maria Clara e a colocou em cima de mim. Eu a achei linda! Ela fazia uns bicos que eu fiquei encantada, não cansava de falar para ela como ela era linda. A Maria Clara chegou chorando e quando escutou minha voz, ela parou de chorar imediatamente e ficou me olhando. Ficamos assim, nos olhando e foi amor à primeira vista, ficamos assim um bom tempo, tiramos fotos, filmamos e ficamos eu, Sergio, Pedro e Ingrid namorando a Maria Clara. Uma enfermeira colocou a pulseirinha de identificação e a levou para ser examinada pela pediatra.

 

O próprio Sergio levou a Maria Clara para o berçário, é um procedimento lindo na Perinatal, eles incentivam o pai a levar o bebê para o berçário. Deve ter sido uma cena maravilhosa que só quem viu foi minha sogra Olga, aos prantos e a Geisi. Elas viram a chegada da Clarinha ao berçário no colo do pai.

 

Enquanto isso, eu estava sendo “fechada”, hehehe... A equipe me deu os parabéns e fiquei deitada na maca esperando me levarem para o quarto. Quando subi para lá, me esperavam meu pai, meus sogros, a Ingrid, a Geisi e a Lu Maria. Depois o Sergio chegou também, numa alegria só. Aliás, o clima era de muita alegria e eu não estava me importando com o fato do meu parto normal ter acabado numa cesárea. Hoje, eu brinco e digo que a Maria Clara nasceu de 95% parto normal e 5%, de cesárea, porque só foi cesárea na hora dela sair mesmo!

 

Estávamos todos esperando a chegada da nossa estrelinha, do nosso solzinho e um tempinho depois, que não durou 1 hora, ela chegou. A Maria Clara saiu dos braços da enfermeira e veio direto para o meu peito e assim foi a sua primeira mamada, orientada pela enfermeira e depois pela Geisi. Claro que ficamos todos completamente hipnotizados por ela. Minha sogra Olga, não saía de perto e ria quando a Clarinha suspirava mamando. Aos poucos foram chegando as primeiras visitas. Confesso que a princípio, eu e Sergio não queríamos que ninguém aparecesse, porque estávamos há um dia sem dormir e exaustos. Mas, conseguimos descansar um pouco antes do pessoal começar a chegar e foi muito gostoso receber todo mundo, só que eu tinha que contar essa história toda, várias vezes. Algumas pessoas quando chegaram, me pegaram chorando, olhando para a Maria Clara.

 

A única coisa ruim dessa história para mim foi levantar a primeira vez da cama no dia seguinte para tomar banho. Fui ajudada por duas enfermeiras, mas, foi terrível. Eu não conseguia me mover, não conseguia andar e só a tentativa de andar até o banheiro, quase me fez desmaiar. Tive que tomar um banho gelado para não desmaiar de vez. Eu não estava preparada para aquilo e senti muito. Falo para todo mundo que prefiro 10000000 trabalhos de parto a uma cesariana e olha que a minha recuperação foi boa. Da próxima vez, tentarei novamente o parto normal. Agora que sei que não é nenhum bicho de sete cabeças!!! Mas, vou me preparar melhor e fazer algumas coisas diferentes. Uma delas é esperar mais tempo para receber a anestesia, fazer exercícios para o bebê se posicionar melhor, não deixar a sala de parto parecer a arquibancada do Maracanã e lá vou eu começar a ler e estudar sobre VABC (sigla em inglês de parto vaginal após cesárea).

 

Nossa filha está aqui no meu colo, me fazendo digitar com uma mão só... tudo na minha vida mudou, eu não vivo mais sem ela. Hoje, ela está com 3 meses e já sorri com o SORRISO BANGUELA mais lindo do mundo, que deixa a mim e ao pai malucos. Não canso de agradecer a Deus, por ela ser linda, feliz e com saúde. Eu e ela, às vezes, ficamos nos olhando e no olhar dela eu vejo tanto amor!

 

Bem, aqui termina o relato do nascimento da Maria Clara e começa um relato ainda maior, construído dia após dia.

 

Para aqueles que queiram ver tudo isso relatado em fotos, mandem um e-mail para mim que eu mando o link.

 

Filha, estarei com você todos os dias da sua vida, em qualquer situação, em tudo quero estar presente e ser a sua melhor amiga. Amo você demais, minha princesa.

 

Mamãe

 

 

Edwiges Figueiredo

Rio de Janeiro - RJ

bottom of page