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Relato de parto de Marina Maria, nascimento da Ana Catarina

Parto domiciliar tranqüilo amparado por marido, parteira e doula após parto vaginal hospitalar. “Só agora posso entender o real significado de protagonizar o parto. É uma experiência totalmente diferente, única e sublime.”

 

Na véspera do nascimento da Catarina, à noitinha, falei com uma amiga que tinha acabado de ter um parto domiciliar, a Zuka.

 

Talvez a ocitocina tenha vindo via telefone, não sei. Mas logo depois que desliguei o telefone, a Catarina começou a mexer muito, mas muito mesmo. Deduzi que ela estava encaixando. Logo mais à noite, percebi o tampão ao ir ao banheiro. O tão esperado tampão, que eu achava que era lenda! Depois disso as contrações voltaram, fracas, mas perceptíveis.

 

No dia seguinte, providenciei os últimos preparativos. Depois, fiquei em casa, esperando, porque algo me dizia que seria naquele dia. Mas não foi. Fui dormir meio frustrada, reclamando com a Catarina: "Ô, filha, vem t'embora! Tá tudo pronto!".

 

Ela ouviu. Era uma da madrugada quando as contrações começaram a não me deixar mais dormir. Levantei e cronometrei: estavam de 4 em 4 minutos. Ás 2h, acordei Fábio, precisava que ele lavasse a bola e a banheira, coisas que eu já vinha pedido há alguns dias pra ele fazer... Ele passou o resto da noite faxinando a casa. E eu andava, sentava na bola, deitava. Mas as contrações começaram a espaçar. De 6 em 6, de 7 em 7, de 8 em 8. Às 4h a Maria Clara acordou (bebês adivinham, né?). Às 5h resolvemos levá-la para a casa da minha mãe, que fica bem próxima a minha casa. Fomos, demos uma desculpa qualquer (meu pai não sabia / não concordava) e voltamos a pé. Na ida eu cantava pra não assustar a Clara, que ria bastante das minhas caretas! Quando chegamos em casa eram 7h e eu liguei pra Dani, minha doula, e para a Suely (a parteira). O TP estava estacionado, contrações de 10 em 10 minutos.

 

A Dani chegou com a Flora, sua bebê, e ficamos conversando. A Suely chegou com a Marcely, cerca de 9h da manhã. Fizemos um toque, 6 cm e colo grosso ainda. E as contrações daquele jeito, quase parando. Ela me sugeriu um chá, que eu aceitei. Algum tempo depois resolvi tomar um banho e depois a Suely pediu pra escutar a nenê. Ela notou uma leve aceleração nos batimentos da Catarina e pediu que eu ficasse deitada do lado esquerdo para tentar contornar isso, já que, se esse quadro continuasse, teríamos que ir para o hospital. Ela desconfiava de circular de cordão.

 

Não fiquei nervosa, pelo contrário, deitei e tentei deixar minha mente o mais aberta possível, sem pensar em nada, só tentando entrar em contato com a nenê. 20 minutos depois ela escutou novamente e os batimentos tinham normalizado. Fui liberada para usar a banheira. Nossa, foi uma maravilha. A essa altura as dores já estavam incomodando bastante e a água aliviou muito.

 

Ao mesmo, tempo, acelerou o processo: saí da água com contrações de 3 em 3 minutos, para fazer um toque e escutar a nenê novamente. 8 cm e outra vez o coraçãozinho dela acelerado! Tive que ficar deitada de novo, o que foi bem difícil, já que as contrações já estavam bem fortes. Muito fortes, mas nem um pouco comparáveis com a dor do primeiro parto, com ocitocina.

 

Para mim ainda levaria muito tempo para aquela nenê nascer. Comecei a sentir vontade de ir ao banheiro, sabia que era um sinal, mas não acreditei que poderia estar tão perto, achei que era vontade mesmo e fiquei quieta. Entre as dores eu relaxava, durante as dores eu agarrava o braço de Fábio e tentava vocalizar alguma coisa. Tinham me dito que abrir a boca ajudava a abrir a vagina, e o negócio realmente funciona! Quando eu não agüentava mais a Suely entrou no quarto e perguntou se eu estava sentindo pressão no ânus. É, eu estava. Pediu pra fazer um toque em pé, para ver a direção da cabecinha do bebê (algo assim).

 

A Catarina já estava lá embaixo. Começaram a preparar o cenário e eu me perguntando o porquê, já que esperava sentir muito mais dor ainda. Eu já não raciocinava direito entre as contrações e, durante elas, eu agarrava Fábio, que me ajudava a rebolar. Por sinal, ele estava muito tranqüilo, me passou muita segurança, foi fundamental. Suely pediu que eu fosse ao banheiro e fizesse um toque em mim mesma para sentir o bebê, para que eu soubesse onde ela estava e que faltava pouco. Depois todos que estavam na casa me circundaram e Suely fez uma oração, bela pelo que eu consegui escutar e entender...

 

Deixou-me no quarto e disse que quando eu sentisse vontade de empurrar, era só ir pra sala, onde estava tudo arrumado: um colchonete forrado e uma cadeira. Alguns minutos depois, a vontade veio. Na sala, tentei primeiro a posição de cócoras, que me pareceu desconfortável, já que não é muito rotineira para mim. Achei muito melhor ficar sentada no colo do Fábio, assim eu tinha mais apoio. Eu estava meio em transe, repetia para mim mesma coisas do tipo "Eu vou conseguir!", "tenho que fazer força, muita força". O pessoal também ajudava, elogiava quando eu conseguia fazer uma força legal, falava que faltava pouco. A Dani tirava fotos. E eu fazia força. "Suely, eu tô ficando vesga!". "É que você tá deixando força na garganta, ponha essa força pra baixo!" E eu pus a força pra baixo, e a nenê começou a chegar bem perto... "Se você fizer outra força dessa, ela nasce!" Uma força mais e eu abri os olhos e percebi, pela admiração nos rostos das meninas, que a Catarina estava realmente chegando. Resolvi que ela vinha na próxima.

 

Fechei os olhos, esperei a contração vir, e então a Catarina nasceu, e chorou forte assim que saiu. Não havia circular, apenas o cordão era curto. Suely limpou a Catarina rapidamente e me entregou. Eu peguei meu prêmio nos braços, ainda na mesma posição. Eu e Fábio ficamos olhando a carinha dela, ofereci o seio. Quando o cordão parou de pulsar, Fábio o cortou. Depois veio a hora chatinha: esperar a placenta. A placenta saiu e fomos ver como estava a região. É, uma pequena laceração, provavelmente causada pela episio anterior.

 

Cuidaram de mim e me colocaram na cama. Depois foi a vez da bebê. 49 cm, 2750gr. Miúda, não tinha roupa que coubesse nela! Trouxeram a Catarina para mim, as meinhas escorregando do pezinho. Ela veio para o peito com uma pega perfeita, fiquei surpresa. É uma menina tranqüila, assim como costumam ser os bebês nascidos em condições naturais. A Clara chegou algumas horas depois, junto com minha mãe, e deu gritinhos de felicidade quando viu a irmã.

 

 

Bem, é isso. O parto foi, para mim, muito tranqüilo, apesar do tal cordão curto. Só achei que foi rápido (o TP ativo). O expulsivo foi mais demorado do que no parto da Clara, porém foi bem gradual, o pessoal via o bebê descer centímetro a centímetro.

 

Só agora depois do parto da Catarina posso entender o real significado de protagonizar o parto. De parir sem ocitocina, episio, nada, apenas com meu esforço. É uma experiência totalmente diferente, única e sublime.

 

 

Marina Maria 

Recife - PE

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