top of page

Relato de parto de Meire Santos - nascimento de Teo

Gravidez pós-termo, gestante com histórico de abortos anteriores e uma cesária prévia. Parto normal hospitalar com descolamento de membranas necessário, sem episiotomia e anestesia no final.

 

Meu parto e o troféu segura caroço!

 

Hoje, olhando a bagunça em que o quarto do casal se transformou, eu choro de alegria: o Teo em um bercinho, o Gabriel e o Marcos se revezando entre a cama do casal e o colchão no chão e eu na cama. Muitas cobertas, todos quentinhos nesses dias frios. Me lembro de como tudo começou e como chegamos aqui.

 

Eu não sei bem que dia foi, mas já faz tempo. Eu estava navegando na internet e encontrei uma indicação para o site Amigas do Parto. Fiquei curiosa e entrei lá. Qual não foi a minha surpresa ao ler que um parto normal após cesárea não era tão simples de se conseguir. O Gabriel havia nascido de cesárea pelos motivos que hoje sei que são esdrúxulos, mas que na época fizeram todo o sentido pra mim e salvaram a vida dele. Ainda mais que eu havia perdido dois bebês antes dele, eu queria mais é que ele nascesse rapidinho, sem correr risco nenhum.

 

Mas ficou uma coisa ruim do parto: não estar com ele logo após o nascimento, a dor na recuperação da cirurgia e todas aquelas coisas que a gente já sabe. Entrei na lista de discussão das Amigas do Parto, hoje Parto Nosso e depois na lista Materna_sp, onde optei por ficar por pura falta de tempo de estar em todas.

 

O assunto me interessava muito. Acompanhei vários partos com sucesso e via que todos haviam sido uma luta. Estava claro pra mim que o parto normal seria a melhor coisa.

 

Dia 07/10, um Clear Blue confirmou o que eu já suspeitava: eu ia ter um bebê. Fiquei muito feliz, o Marcos também. Desde o começo eu frisei que queria um parto normal, mas o Marcos me falava para esperar os três primeiros meses, porque eu tinha um histórico de abortos anteriores. Com isso, iniciei o pré-natal com meu antigo obstetra mesmo. Até que um dia ele disse a pérola: minha cicatriz da outra cesárea estava tão boa que nessa ele ia poder cortar em cima da mesma....

 

O Marcos não havia se convencido do parto normal. Ele achava que a cesárea era segura, pois eu já havia passado por uma com “sucesso”. Isso foi fonte pra algumas discussões. Pedi pra ele ler o livro “Memórias de um Homem de Vidro”, fomos ao GAMA para ele conhecer as meninas e ver que não havia nenhuma E.T. lá, que eram todas mulheres normais. Fomos conhecer o Dr. Jorge Kuhn e o Marcos embarcou nessa comigo.

 

Fiquei com o Dr. Jorge e não quis ir dar satisfação ao meu antigo obstetra. O pré natal foi correndo tranquilo comigo e com o bebê. Até que fomos nos aproximando da DPP (data provável do parto). Com 38 semanas, o Teo já estava encaixado, mas o Dr. Jorge deixou claro que isso não significava que ele nasceria logo.

 

Com 39 semanas, entrei em licença-maternidade. Chegaram as 40 semanas e nada. Comecei a desanimar: “Será que eu vou morrer na praia??? Será que o meu corpo não tá sacando que tá na hora de pôr esse bebê pra fora?”

 

Fazia os três hots – hot sex, hot food e hot bath –, ia ao mercado e carregava sacolas sozinha, dirigia, carregava o Gabriel no colo e nada. 41 semanas e ainda nada. Eu tinha que fazer agora cardiotoco e ultrassom a cada 2 dias para acompanhar o bebê.

 

Além do mobilograma. Estava ficando cansada, ainda não estava preocupada. Todo mundo me perguntava do bebê, quando ia nascer, porque esperar desse jeito. E eu comecei a achar que talvez o mundo estivesse certo e eu errada.

 

Dr. Jorge conversava comigo a respeito de como a gestação ia bem, mas eu queria saber logo quando ia acabar (quer dizer, começar o TP - trabalho de parto). Ele sempre me falava que na hora que o Teo estivesse pronto, isso aconteceria. Conversamos a respeito das possibilidades de indução e me decidi pelo descolamento de membranas.

 

Com 41 semanas e 5 dias, um dedo (e olhe lá!) de dilatação, o Dr. Jorge fez o procedimento. Era uma segunda-feira e se não surtisse efeito eu deveria voltar lá na quarta para verificarmos se a dilatação havia aumentado para tentar novamente.

 

Na quarta-feira ainda não havia entrado em TP. Na consulta com o Dr. Jorge eu chorei. Estava com medo de estar indo longe demais e prejudicar meu filho. Dr. Jorge me falou: “Meire, vamos tentar o descolamento de novo. Se não der certo, em 48 horas, a gente interna para indução com ocitocina. De qualquer forma, você já leva uma guia para internação. A qualquer momento que você decidir, nós podemos iniciar a indução.”

 

Acho que ter uma data limite para ele nascer me tranquilizou....

 

Na quinta feira, acordei com contrações. Não eram as cólicas que todo mundo falava. Era uma força na altura do osso do quadril.

 

Vinha a cada 10 ou 15 minutos, durando 45 ou 50 segundos. Bem irregulares. Mas bem incômodas (ok, eu ia ver o que era incômodo quando estivesse dilatando dos 8 até os 10 cm, mas deixa prá lá!).

 

Liguei pra Ana Cris, a doula. Ela me confirmou que era TP, mas não era fase ativa ainda. Me mandou fazer minhas coisas e disse pra ligar pra ela quando apertasse. Fiquei o dia inteiro assim e a noite também. Conseguia cochilar entre as contrações, mas teve uma hora que me toquei que não estava mais cochilando. Fui pro chuveiro para ver se eu não estava sonhando, mas não, elas estavam apertando mesmo.

 

Acordei o Marcos (tinha mandado ele dormir pois ia precisar dele inteiro pro TP), pedi pra cronometrar as contrações. Estavam a cada dois minutos. Liguei pra Ana Cris e ela sugeriu de irmos pro Einstein. Eu topei na hora. A idéia de ter que pegar um horário de rush pra chegar lá não me agradava.

 

Quando cheguei lá, fui examinada: 4 cm, uma cardiotoco. Dr. Jorge foi avisado e pediu pra me internar. Chegando na LDR (suíte de parto), tudo foi parando....as contrações espaçando, ficando mais fracas. A Ana Cris perguntou se eu não queria voltar pra casa. Putz! A minha faxineira estava aqui, tinha a questão do trânsito... preferi ficar.

 

Então ela teve a brilhante idéia de tentarmos uma homeopatia para regularizar as contrações. Eram umas gotinhas que ela me dava a cada meia hora e funcionou!!! As contrações foram ficando regulares e intensas. Eu chamei de “homeopatia assassina” pra brincar com a Ana Cris, mas ela foi a minha salvação mesmo!

 

Dr. Jorge chegou bem humorado como sempre. E as contrações apertando. Eu ficava bastante na banheira e no chuveiro. A partir de um determinado momento eu já não conseguia me comunicar muito bem com o mundo externo. Muito estranho: eu tinha plena consciência de tudo ao meu redor, mas não conseguia me comunicar com ele. Só com o Marcos, que eu mandava ficar quieto, jogar o celular fora, essas coisas básicas.

 

Às 18h eu estava cansada e pedi pro Dr. Jorge fazer um toque: 8 cm e a cara do Dr. Jorge era muito animada. “Está tudo ótimo Meire.” Com o exame a bolsa estourou.

 

- Dr. Jorge, isso escorrendo, foi a bolsa que estourou?

 

- Sim, o líquido está limpinho, pra uma gestação de mais de 42 semanas isso é ótimo!!!!

 

- É, mas agora f****.

 

Eu sabia que quando a bolsa estoura as contrações apertam. E foi o que aconteceu. Elas ficaram bem próximas, mas a Ana Cris me lembrava que faltava muito pouco, pra eu aguentar esse finalzinho porque a dor ia sumir. O expulsivo seria só pressão e outras sensações. E assim foi.

 

Gente é muito engraçado perceber no corpo essa transição. Veio a vontade de começar a fazer força. Eram 20h. Dr. Jorge trouxe o partograma e “sentenciou”: o Teo vai nascer até 23h.

 

Fui pra banqueta de parto pra fazer força. Eu segurava na Ana Cris, fazia força, mas não estava dando certo.... Tomei novamente mais da homeopatia pra ver se ajudava, mas não resolveu. Fiz força, força, força, nada. Alguém sugeriu que eu fosse pra cama, segurar naquela barra de fazer força e não adiantou.

 

Dra. Andréa disse que meu útero estava numa posição desfavorável e sugeriu que eu deitasse um pouco, mas eu não conseguia, doía demais. Tentei a posição de Sims e nada. Então pára tudo! Vou pra banheira tentar relaxar um pouco pra ver se o bebê termina de descer. Mas nada acontece. O Marcos estava do meu lado, me deu o chocolate que a gente tinha combinado de comer no expulsivo pra dar mais energia. Eu comi um pedaço e fiquei enjoada. Ele falava: “Meire, você disse que queria, lembra? É pra vc ficar mais disposta. “

 

Mas eu não consegui comer. O Marcos falava no meu ouvido pra não desistir, que ia ter um fim, nós já tínhamos chegado até ali, pra eu lembrar de todo o caminho que a gente tinha trilhado e do que a gente estava se livrando ao fazer parto normal. Mas nada adiantou...

 

Eram 23h e o Dr. Jorge foi lá na banheira conversar com a gente. Pela primeira vez desde que o conheço, vi preocupação no rosto dele. Ele explicou o que estava acontecendo. O bebê não estava descendo adequadamente. Nesse meio tempo eu havia feito outra cardiotoco e o Dr. Jorge explicou que o bebê estava começando a mostrar um pouco de cansaço (ele explica tudo tão bem que eu tive 4 contrações nesse meio tempo - hi hi hi). Fiquei preocupada também.

 

O plano sugerido era sair da LDR ir para o Centro Obstétrico fazer uma anestesia e relaxar por meia-hora. Se o bebê descesse mais um centímetro, poderiamos fazer um fórceps de alívio, caso contrário, seria uma cesárea. Eu perguntei se não seria então o caso da cesárea direto, mas o Dr. Jorge disse que ainda não. Ainda era mais seguro o fórceps do que a cesárea. Me deixou a sós com o Marcos para conversarmos. Decidimos que só esperaríamos meia-hora, senão iríamos para a cesárea.

 

E assim foi. Quando cheguei no CO, o anestesista já estava me esperando. Apesar de não haver pedido, a anestesia foi um bálsamo. Eu dormi de puro cansaço. Pra mim foi uma noite inteira. A Ana Cris me disse que foram uns 15 ou 20 minutos. Nesse tempo, Dr. Jorge ficou monitorando o bebê com a cardiotoco. Acordei (ou fui acordada) e pus as pernas na perneira. Já era possível o fórceps. O Dr. Jorge explicou apenas que teríamos que ir da sala pré-parto para a sala de parto ao lado.

 

Quando chegamos na sala de parto, colocaram minhas pernas nas perneiras, a Dra. Andréa foi se posicionar. Eu a vi abrindo um sorriso pro Dr. Jorge e dizendo: “Ele tá aqui, o bebê desceu!”. Ninguém acreditou!

 

Dr. Jorge me mandou fazer força. Fiz duas vezes, a Dra. Andréa falou: “Espera um pouco, não faz força agora.” E, então, eu ouvi o Teo chorar. Ele nasceu assim, facinho. Dr. Jorge mandou colocar sobre meu colo e ele parou de chorar na hora.

 

Foi muito emocionante!

 

Eu tinha conseguido! Não acreditei!

 

O Teo teve apgar 9/10, pesava 4,060kg e eu não fiz episiotomia.

 

Ele subiu comigo pro quarto e a meu pedido não foi pro berçário. Ficou no alojamento conjunto. Nenhuma enfermeira acreditava quando via na minha ficha que eu tive apenas laceração. A anestesista, uma médica muito gente fina, ficou impressionada que eu quase havia parido sem anestesia.

 

Que pena que tem que ser assim não é? Antes do parto a gente é a louca que vai “tentar” parto normal. Depois a gente é a heroína que fez o parto normal. Isso devia ser tão natural pra todo mundo. Minha recuperação está mais do que ótima. Nem se compara com a cesárea.

 

Aqui ficam os agradecimentos:

 

- Ao Marcos, por entrar nessa comigo e pelo companheiro maravilhoso que é. Meu amor por ele só aumentou depois dessa jornada.

 

- À Ana Cris, por mostrar o caminho, respeitar decisões, apoiar. Você é uma mulher maravilhosa e abençoada.

 

- Ao Dr. Jorge, por saber a exata medida da mistura da ciência com o coração. Por nos mostrar sempre as alternativas e caminhos e nos guiar. Obrigada, sem você nada seria possível.

 

- À Dra. Mema, que tem uma presença maternal, que conforta e ajuda nos momentos difíceis do parto.

 

- À Dra. Andrea, mulher muito inteligente e sensível. Adorei conhecê-la apesar do pouco tempo que passamos juntas.

 

- E a todas as meninas da lista: vocês com suas experiências e dificuldades me ajudaram a chegar até aqui e descobrir que era possível sim!!!!

 

Relato do Marcos (marido de Meire e pai de Teo):

 

Basicamente o relato é o que a Meire escreveu...

 

Acrescentaria somente algumas frases que marcaram esta gestação:

 

Durante a gestação, da Meire:

 

- Você já ouviu falar sobre parto humanizado? Eu odeio cesária...

 

- Você não quer ver estes sites? E a lista de discussão? Leia o livro. Vamos a um encontro do GAMA?

 

- Se tivermos mais um filho, posso tentar parto normal? Quero tentar parto normal, porque blá blá blá...

 

- Vou perguntar para a Ana Cris, vou ver na lista, vou perguntar para o Dr. Jorge.

 

Dos nossos familiares, amigos e colegas:

 

- Vocês são loucos? Por que vocês gostam tanto de complicar?

 

Durante o TP, da Meire:

 

- Acho que é uma contração...Tá doeeeeeeendo...

 

- Falta muito Ana Cris?

 

Da Ana Cris

 

- Lembra daquele parto? Foi desse jeito...E aquele outro parto da....

 

- Calma! Você está indo super bem!

 

Além das frases, não posso esquecer da equipe sempre muito atenciosa, sempre explicando detalhadamente a situação e as alternativas. Tudo com muita paciência, carinho e capacitação.

 

Após o resultado final seria fácil falar que foi bom. Mas foi quando parecia que não seria como sonhamos, percebi que estava agradecido por passar por esta experiência, que, no mínimo, foi divertidíssima!!!

 

 

Meire Santos

São Paulo/SP

bottom of page