Menos mãe
Socorro Moreira
Tenho percebido nesses meus anos de interesse sobre parto, navegando na Internet, me correspondendo com mulheres, que grupos como o nosso passam a imagem de serem CONTRA cesarianas.
Pretendo aqui, tentar explicar como me sinto, como muitas de nós da Parto do Princípio nos sentimos com relação à via de parto.
O caso é que se conta nos dedos de uma mão as mulheres (pelo menos as servidas por planos de saúde complementar) que optaram por uma cesárea. O que muito se vê é que muitas são compelidas a uma cesariana por receberem do profissional que as acompanha informações distorcidas quanto ao risco de um parto normal e optam para o bem de seus filhos, por uma cesárea.
Algumas, no momento de fragilidade pelo qual toda mulher passa ao final da gestação, não recebem apoio suficiente para transcender esse momento e enfrentar o trabalho de parto. Em ambos os casos, não aceito a opção por uma cesárea eletiva como uma escolha da mulher. São poucas, pouquíssimas as que chegaram pra si mesmas e disseram: Prefiro uma cesárea!Tiveram informações fidedignas, pesaram os prós e os contras, avaliaram sua história de vida, suas preferências, suas limitações, suas possibilidades e disseram: Prefiro cesárea! E fizeram.
E convenhamos, é bem melhor quando a gente escolhe não é?
- É bem melhor casar com quem a gente escolhe (mesmo que o cara seja um patife) do que um casamento arranjado
- É bem melhor a gente escolher se quer trabalhar o ficar em casa cuidando das crias do que ser compulsoriamente obrigada a fazer uma das duas coisas como mulheres de gerações anteriores que não lhes era permitido trabalhar, ou algumas que ainda hoje são obrigadas pra ganhar o pão de cada dia;
- É bem melhor quando se opta em casar virgem ou não
- É bem melhor quando a gente tem o poder de decidir que via de parto quer.
Nós somos defensoras pelo direito de escolha da mulher.
Escolhas informadas, que contemplem as necessidades DELA. Principalmente quando se trata de decisões que envolvam o corpo feminino e seus bens mais preciosos (seus filhos). Defendemos que a mulher seja tratada como ADULTA e que lhe seja dado o direito de participar ativamente das decisões que lhes dizem respeito.
Defendemos o direito de se escolher com quem casar (direito de escolher o objeto de afeto), quando ter relações sexuais(direito de dizer não), quando engravidar (direito a contracepção), como parir(direito a um parto normal se possível, e de uma cesárea se necessária ou desejada).
Nos dirigimos a todas as mulheres: As que optaram por parto normal, as que optaram por cesárea eletiva, as que tiveram parto normal, as que fizeram cesáreas desnecessárias contra sua vontade ou desejo e as que tiveram cesáreas necessárias e digo que acredito sinceramente, que se pudermos ouvir mulheres que pensam, sentem, vivenciam a seus partos(sejam eles como forem) talvez a gente consiga o tempero especial pra entender os motivos que levam alguém a optar por uma cesárea eletiva.
Motivos que não necessariamente são oriundos de uma desinformação crônica.
Usando uma frase que tenho ouvido e lido muito nesses últimos anos: “Ninguém é menos mãe porque fez cesárea”, ou não amamentou, ou adotou um bebê, ou só tem um olho. Parto não é “mãezimetro”. Não é o parto quem mede/compara o amor que se tem por um filho, não é o parto que faz ou não uma mulher ser mãe.
Ser mãe é MATERNAR. É cuidar do bebê com amor indescritível. E pra isso, basta amar, basta ter coração.
Não precisa ser mulher, não precisa engravidar, não precisa parir...basta ter coração.
E isso nós temos de sobra não é?
Socorro Moreira
Fortaleza-CE, abril de 2006