Relato de parto de Relze Fernandes, nascimento do Pedro
Um parto natural domiciliar ativo e emocionante
Sei que vai ser longo, quase um livro - diário, mas vou tentar passar a vocês toda a emoção que senti com a chegada desse serzinho tão iluminado e abençoado em nossas vidas!
Quem quiser pode ir direto para o “Parto finalmente” que é sobre o dia do parto!
Eu e o Gu já estávamos juntos há 7 anos em outubro de 2004, e planejávamos um bebê para o ano de 2006. Tínhamos que ver com calma pois eu viajava todos os dias no trajeto Campinas – SP, passei 6 anos da minha vida fazendo isso, pois o Gu trabalhava lá em Campinas e eu aqui em SP. Pensava que ia ser difícil agüentar a viagem grávida e eu sabia que ia agüentar o máximo possível para poder ficar o máximo possível com o bebê depois que ele nascesse.
No dia 14 de outubro de 2004 me deu uma vontade louca de ser mãe, um amigo do Gu diz que essa vontade que dá nas mulheres, é uma vontade galopante e não há nada que nos segure neste projeto e como pelo Gu nós já teríamos um time inteiro de futebol de salão, ele topou na hora, apesar de achar loucura eu continuar a viajar, e não é que no dia seguinte dia 15 ele foi chamado para uma entrevista aqui em SP e no dia 22 de novembro ele já estava trabalhando aqui. E assim, mudamos para São Paulo no dia 10 de dezembro, sabíamos que estava tudo caminhando para um ano de 2005 maravilhoso!
Bom nossas tentativas para encomendar nosso bebê começaram em janeiro de 2005, até entrei na lista materna por indicação de uma amiga minha que participa da materna e da mamãe e bebe, ela disse gostava mais da mamãe e bebe, mas que a materna era a minha cara (sabe que até hoje eu não sei o pq ;->). Como sou a criatura mais boca aberta que eu conheço, todos nossos parentes, amigos, conhecidos e até vários desconhecidos já sabiam que estávamos mandando cartinha para a cegonha, muita gente falou para eu não fazer isso, pq podia gerar ansiedade e caso demorássemos a engravidar isso só nos prejudicaria, mas não adianta eu só sei ser assim, por fim a cegonha não respondeu nossa cartinha em janeiro, haviam muitos pedidos de carnaval para ela atender, e em fevereiro sem desanimar e como tentar é muito bom, mandamos de novo a cartinha para cegonha, e dessa vez mandamos via sedex hoje, e não é que dia 8 de março veio a resposta positiva, íamos ter um bebezinho! Foi bom saber logo, pois eu estava com uma danada de uma infecção na urina e eu queria saber se o resultado era positivo para tomar o remédio certo que não fizesse mal ao bebê, procurei uma médica que eu sabia que não ia auxiliar no parto, como os outros seis que eu já havia passado aqui em SP nos últimos anos, o Gu sempre riu de mim pq quando eu ia a um ginecologista, ele perguntava se eu gostei, e eu sempre respondia que sim, mas que não ia fazer o parto pq tinha cara de cesárea. Daí, por indicação da lista, marquei uma consulta com o nosso anjinho que é o Dr. Jorge, mas tenho que confessar que tinha mais dois médicos marcados depois da consulta dele que logo depois da consulta com ele foram desmarcados!
No dia 17 de março eu já apareci no Gama, toda feliz, e fui recepcionada pela Cris Balzano, aquela criatura toda meiga e de voz aveludada (depois descobri que a voz ela pode não ser tão calma quando se trata do filhote ativo dela), foi tão bom ver que o parto normal era possível e que ele podia ser mais maravilhoso ainda se fosse humanizado. Descobri sobre o parto em casa, que até então para mim era totalmente desconhecido (na verdade conhecido pq meus pais nasceram em casa), mas quando soube da possibilidade, não me imaginava tendo o bebê em outro lugar. Cheguei em casa eufórica, o Gu não havia ido comigo pq era o dia do futebol, contei quase tudo para ele, menos a minha idéia do parto em casa, ele já era tão receptivo ao normal que eu não quis impactá-lo tanto!
No sábado seguinte fomos ao Dr. Jorge, foi paixão total minha e do Gu. Amamos a maneira como ele nos tratou, como ele falou das chances e insucessos no começo da gravidez sem nenhuma maneira de nos tirar a nossa doce expectativa de ter o bebê, da disposição da sala dele, onde ele não fica atrás da mesa como senhor de todo conhecimento, ele nos falou do parto em casa, e eu com uma risadinha simples, disse que achava bem interessante, daí ele se empolgou a falar, falou até no unassisted, o que foi ótimo, o Gu quando saiu do consultório dele falou “ Relzinha nós podemos ter o bebe em casa com a equipe médica? Achei o unassisted para o 1° muito”, estávamos radiantes e decididos a ter o parto em casa e para isso nos informamos muito!
Na quinta seguinte foi o lançamento do livro da Ana Cris, outra figura apaixonante e iluminada, troquei meia palavra com ela, e tinha certeza que iria ser o começo de um longo e duradouro relacionamento, daí então foram várias quintas feiras no Gama, quando não podíamos ir, ficava um verdadeiro buraco na semana, como que se faltasse algo!
Na gravidez foi tudo tranqüilo, cada vez estava mais apaixonada pelo meu estado de grávida e pelo bebezinho que crescia em mim! Cada sensação nova, os movimentos que vão surgindo, tudo têm um efeito tão mágico!
No dia de finados o Dr. Jorge e a Mema chegaram em casa para trazer o material para o parto e deixá-lo lá, dado que não tinha mais nenhum outro parto domiciliar antes do meu. Nós não acreditamos em todo aquele kit, achamos que eles estavam levando tudo aquilo para o parto da Damares que estava no Sta Catarina, não imaginávamos que era tanta coisa, tinha até balão de oxigênio e duas maletas do gato Félix, onde tinha de tudo!! Foi engraçado que um dos nossos vizinhos os viu chegando e disse brincando, “nossa achei que eles iam fazer o parto aqui mesmo, ontem”, e eu respondi que ainda não era o dia, acho que ele nem imaginava que ia ser em casa mesmo!
Na sexta feira, dia 4 de novembro, eu passei o dia sentindo uns choquinhos na barriga. Na hora do almoço eu percebi que o tampão havia saído, mas eu só comentei com uma menina que trabalhava comigo, como eu sabia que o tampão podia sair dias antes eu resolvi não criar expectativas em ninguém. Ainda mais que todo mundo sabia que eu ia ter o Pedro em casa, não queria que ninguém deixasse uma ambulância de prontidão.
No sábado eu completei 39 semanas, acordei cedo, fomos almoçar com meus irmãos, depois fomos no Ibirapuera na slingada, onde eu vi um monte de gente e andei bastante, pegamos um filme e fomos para casa. Logo após o filme, chamo o Gu para ajeitarmos a casa que no domingo seria um longo dia, o Gu arregalou os olhos e abriu um sorriso enorme, “vai ser amanhã?”, eu disse que achava que sim! O bichinho desandou a arrumar tudo, afastar a cama, separar os lençóis e as toalhas velhas e fomos dormir, achei que ele não fosse conseguir, mas assim como eu, capotou de sono.
Parto finalmente.
Acordei às 7h com uma contração que não se parecia com as de braxton-hicks e uma vontade louca de fazer cocô. Dali a uns 8 minutos veio outra contração. Resolvi tomar um banho para ver se não era só impressão, sai do banho e fui andar dentro de casa, andei até umas 8h, e as contrações vinham e iam. Como uma ligeira cólica nas costas. Fui para o banho de novo e sai de lá umas 8:20 e foram umas seis ou sete contrações, resolvi então acordar o Gu, que já acordou todo eufórico perguntando se já tinha começado e eu apenas sorri para ele, ficamos andando em casa e o Gu ligou para Ana Cris (doula), que recomendou que eu voltasse para o chuveiro. Fui para o chuveiro e acho que eram mais ou menos umas 10hs quando o Gu ligou dizendo que eu estava gritando, ele levou a sério pq quase nunca me vê reclamando de dor. A Aninha disse que já estava indo, dali a pouco ela chegou e quando foi 11:10 (sei os horários por causa da cta telefônica hihihi, na hora eu não tinha a menor noção do tempo) ela pediu para avisar o Dr Jorge, pois achava que ia ser muito rápido, mas que ele não precisava tomar nenhuma multa não, eu devia berrar muito, e as contrações estavam de 4 em 4 minutos, ligaram também para a Ana Paula que achou que ia chegar e o Pedro já ia estar seco, mas ele resolveu esperar todo mundo chegar!!
A tarde as contrações ficaram mais fortes e mais doloridas. Eu continuava no chuveiro, mas agora tinha o banquinho de cócoras, onde podia me sentar nos intervalos, quando doía, eu ficava em pé, numa dessas alterações de posições eu também cai, foram dois tombos em um único trabalho de parto. Não consegui comer nada o dia todo, vomitei até a minha alma, só consegui beber água e gatorade, até água de coco me fazia mal! Tinha horas que as contrações espaçavam mais, depois elas voltavam a ficar mais freqüentes. As contrações são muito engraçadas, embora doloridas, no intervalo dá para você contar piada, brincar, e depois recomeçava a gritar. O Gu filmou uma e eu sempre dou risada pq é muito estranho eu grito, grito, grito, depois já estou brincando novamente. Teve uma hora que a Ana Cris me perguntou se eu estava com vontade de fazer força, e eu disso que sim, mero engano, só mais tarde eu fui entender como era a vontade de fazer força!
Na hora das contrações era muito reconfortante olhar para pessoas tão queridas que estavam ali me dando força, o Gu que tinha uma ligação de olhar que anestesiava a alma, a minha irmã com um olhar tão sereno, e a Ana Cris com aquele olhar tão confiante, de quem diz vamos lá que parir é sua vocação!


Logo depois ela veio me perguntar onde é que eu queria ter o bebê, eu brinquei que no Sta. Catarina, ela disse que eu ia sozinha com o Dr Jorge pq o resto ia ficar em casa!! Eram umas 17h e o Gu entrou mais uma vez no chuveiro comigo. Ele disse que achava uma boa idéia eu sair do chuveiro pois já estava cansado do barulho da água, que o banheiro e nosso quarto já estavam encharcados, decidi tentar sair mais uma vez e desta vez deu certo, a Ana Cris encheu a bola e eu fui sentar (foi tão bonitinho a Mema veio me secar para eu não tomar frio), fiquei lá rebolando na bola, recebendo massagens da Mema e da Ana, e depois de um tempinho saiu uma aguinha com sangue.
Como o processo não tinha sido tão rápido, o pessoal foi tomar café, o Gu foi também, e eu fiquei no quarto sentada na bola com a Aninha. De repente eu saio correndo e grito que quero fazer cocô, só que meu banheiro estava encharcado, me estabaquei no chão, nossa eu lembro da cara de espanto da Ana Cris, mas como eu estou acostumada a cair, me levantei e fui para a privada. Descobri naquele momento como era a vontade de fazer força, é um puxo que vem da alma, incomparável a qualquer coisa que já senti antes!
Daí então a Ana Cris me convenceu a sair da privada e ir para o banco de cócoras, eu comecei fazendo força de forma errada, eu empurrava para cima, com a garganta e não com o diafragma como tinha que ser. Levei um tempinho até entender como tinha que ser, mas foi muito legal pq na hora que eu acertei eu vi a vagina se abrir. Como eu não tinha comido nada as minhas vontades de fazer força estavam muito espaçadas, daí a Sta Ana começou a me oferecer um monte de coisas para comer, e a minha irmã teve a ilustre idéia de oferecer sorvete, o que foi maravilhoso, comecei a ter vontades mais freqüentes de fazer força, e entre um intervalo e outro lá estava a Aninha a me dar sorvete. O momento mais emocionante da minha vida, foi ver ele vindo ao mundo, chegando aos poucos nesse mundo, onde ele vai ter tanta coisa para descobrir. Cada força me fazia sentir o amor que estava brotando dali de dentro de mim, eu fui levada a um mundo a parte onde só havia vida!
Logo que ele nasceu o Dr Jorge o colocou em meus braços. Ficamos ali, como se nada mais existisse, tanto o Gu como a Jaja estavam com lágrimas escorrendo perante aquele símbolo de renovação da vida. No momento que ele estava no meu colo o Dr Jorge pediu para eu fazer uma forcinha para que a placenta saísse, e eu lembro que olhei para ele, e perguntei se era realmente necessário, pois acho que naquela hora eu nem sabia mais como fazer força, ele disse que não era necessário que ela sairia! Houve uma pequena laceração que não precisou de nenhum pontinho, levou alguns dias para sarar, mas mil vezes isso a uma episiotomia, argh!!
Depois desse momento mágico, o Gu cortou o cordão, e ele parecia tão apaixonado, que realmente sei que tudo o que passamos foi para nos unir mais ainda, aquele realmente era um corte que uniu nós três pelo resto de nossas vidas.
Após isso o Pedro foi levado ao banho pelas Aninhas (Cris e Paula) e o Gu que deram o primeiro banho no nosso filhote, e ele ficou tão calminho, que já se mostrou um apaixonado pela água igual a mãe! Enquanto ele tomava banho eu fui deitar na nossa cama, e só conseguia sorrir ao lembrar de tudo, de como foi ótimo chegar até aqui, que cada coisa que vivemos foi muito válida, que realmente vale a pena lutar pelo o que queremos e acreditar que a natureza é muito sábia, que ela nos deu o poder de parir, e que, se por algum acaso alguma coisa não sair como queremos, ela também foi sábia para nos dar o poder de superar as dificuldades e de aprender com elas!

Agradeço a Deus por fazer a minha vida tão perfeita, por sempre colocar as pessoas certas na minha vida e por sempre encaminhar tudo tão perfeitamente. Agradeço ao Gu por sempre estar ao meu lado, e me apoiar e saber entender as minhas decisões, de compartilhar cada momento dessa gravidez comigo, inclusive naqueles que eu estava mais irritada ou fragilizada. Agradeço ao Pedro por me fazer uma pessoa bem melhor hoje, por me fazer uma mulher mais completa. Agradeço a todos que estiveram no parto, vocês serão eternamente muito especiais. Obrigado por tornarem tudo tão lindo e perfeito, principalmente a Ana Cris e ao Dr Jorge, que sempre acreditaram no meu poder de parir!!
Agradeço a cada uma aqui desta lista que sempre contribuiu com dicas ou com palavras de apoio, com manifestações dos seus sentimentos, com as evoluções de cada um, vocês são fantásticos!
Relze Fernandes
São Paulo/SP