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Relato de parto de Renata Rose - nascimento do Teo

Preparação cuidadosa dos pais durante a gravidez leva a um trabalho de parto tranqüilo e a um desejado e transformador parto normal hospitalar. Pai dá seu ponto de vista ao final do relato

 

O relato de parto do ponto de vista da Renata:

 

Entrei em trabalho de parto quando saía do laboratório onde fiz pela segunda vez os exames de Cardiotocografia e Doppler (fiz estes exames a partir da 41ª semana de gestação). Nessa hora eu senti uma contração forte, diferente das outras, e senti uma quentura no coração, como um pressentimento. No dia seguinte completaria 42 semanas de gestação.

 

Comuniquei a contração ao Márisson, sem mostrar muito ânimo. Fomos para casa. Senti outra contração mais tarde, mas ainda não tínhamos dado muita bola. Minha mãe resolveu fazer uma “massagem” na minha barriga que, na verdade, foi praticamente uma reza de benzedeira, tal como a minha avó (que tem 94 anos e é benzedeira lá no Ceará).

 

À meia noite, mais uma. Dessa vez não consegui disfarçar minha animação. A partir daí, o trabalho de parto deslanchou. Comecei a ter contrações bem próximas, de 15 em 15, de 10 em 10, de 7 em 7 minutos.

 

As dores eram completamente suportáveis. Quando vinham as “ondas”, eu me concentrava na respiração e ficava na cama sentada sobre as pernas dobradas, com os braços à frente do corpo. Márisson massageava minhas costas (na região lombar) e anotava o horário do começo e do fim, para sabermos o intervalo. Estávamos calmos e decidimos que era muito cedo para ligar para o Dr. Mário.

 

Lá pelas 2 da manhã, minha mãe percebeu a nossa movimentação. Como ela mesma já passou por isso oito vezes, manteve a calma e procurava ajudar no que podia. Foi muito bom que ela estivesse conosco. A essa altura, eu variava as posições durante as contrações: de quatro, de cócoras, de pé apoiada na parede, mas mantinha a concentração na respiração. Descansava nos intervalos e Márisson continuava a me massagear. Foi assim durante toda a noite.

 

Ligamos para o médico às 6 horas da manhã e ele marcou de nos encontrar no hospital Pouco antes de sair de casa, o tampão começou a sair e só então acreditei que era pra valer! Chegando no hospital, eu estava com 3 cm de dilatação e fiquei por lá mesmo.

 

Concentrei-me em mim e no Teo, contando com a ajuda do Márisson. Ele por sinal foi um excelente companheiro de parto! Manteve-se calmo, me dizia palavras de incentivo e carinho e sempre deixou claro que acreditava na minha capacidade de parir. Com isso, eu também fiquei calma e em nenhum momento perdi o foco do que estava acontecendo em meu corpo.

 

Eu estava tão desligada de todo o resto que me pediram para colocar a tal da camisolinha da bunda de fora, aquela pantufa horrorosa, a touquinha infame e nem me importei com nada disso. Eu estava feliz de ter escapado da indução e mais feliz ainda com a proximidade da chegada do meu menino.

 

Durante as contrações, a posição de cócoras começou a tornar-se desconfortável. Pouco depois, também não me sentia bem de quatro. Depois de algum tempo, só conseguia ficar andando. Umas duas horas depois, eu já estava com 7 cm de dilatação. Ficamos animados!

 

O tempo foi passando e os intervalos estavam menores e as contrações mais doloridas. Mais duas horas e não houve evolução, então o Dr. Mário que era melhor aplicar o soro com ocitocina. Imediatamente fiquei preocupada de começar o efeito cascata de intervenções e questionei a necessidade. Ele explicou que apesar das contrações estarem com boa frequência, elas não estavam sendo eficientes, pois fiquei mais de duas horas com a dilatação estacionada. O anestesista entrou, aplicou o soro e a partir desse momento ele ficava entrando na sala o tempo todo e perguntando se eu não ia mesmo tomar a anestesia. Eu nem respondia mais.

 

Com as contrações bem mais doloridas foi ficando difícil andar. Em algum tempo, a posição que eu ficava melhor era sentada no vaso, com as pernas bem abertas. Entrei então naquela fase em que a gente pensa que não vai aguentar mais e até pensei: “se continuar assim por muito tempo, vou pedir anestesia”. Estava tão cansada que mal me dei conta que já estava quase no fim, pois já tinha a famosa vontade de fazer força.

 

Pouco depois disso, Dr. Mario fez um toque e me pediu para ‘treinar’ a força. Eu estava cansada e fiz uma forcinha de nada, ele ralhou comigo, dizendo que eu precisava me esforçar para fazer meu filho nascer. Surgiu então aquela força que toda mulher tem e nem sabe e, com uma ajudinha do médico, consegui completar a dilatação e meu filho desceu mais um pouco. Já era possível ver sua cabecinha: era cabeludo o meu menino! Ficamos radiantes!

 

Fui para outra sala, de maca, mas nem me importei. A mesa estava deitada e imediatamente reclamei: “eu não quero ficar deitada!” O médico me pediu calma e disse que estava levantando. Veio outra contração, eu tentei me levantar e disse: “eu não vou ficar deitada!” E a mesa então foi levantada. Fiquei completamente sentada, com as pernas nas perneiras, parecido com a posição de cócoras.

 

Depois de ficar na posição, veio outra contração. O Dr. Mário disse que o Teo não estava totalmente centralizado e pediu para que o Márisson fizesse pressão com a mão na lateral esquerda da minha barriga na próxima contração. E me pediu para avisar quando ela chegasse. Dei o sinal e neste momento ele pediu para eu e o Márisson fazermos força. O Teo coroou! Outra contração e o médico disse: “Vamos lá! Vocês três juntos! Agora!”. Éramos eu, Márisson e Teo mais juntos do que nunca nesse momento. Saiu a cabeça. Mais uma contração: “Mais uma vez, os três, pra nascer! Vai!”. E... NASCEU!

 

Imediatamente o Teo foi colocado no meu colo. Ainda estava quentinho. Nossa! Que emoção! Passei meses pensando no que eu diria neste momento e na hora só conseguia chorar e repetir: “Meu amor! Meu amor!”, eu falava com o Teo e com o Márisson, os meus amores!

 

O Teo estava com a pele lisinha, sem vérnix e só com um pouquinho de sangue. Passei a mão pelo seu corpinho e vi que era bem branquinho, lindo e perfeito. Márisson chorava muito abraçado a nós dois. Foi um momento maravilhoso! O nosso melhor momento! Ficamos assim por um bom tempo, mas não sei ao certo quanto.

 

Teo nasceu no dia 22 de junho de 2004, na Casa de Saúde São José no Humaitá, Rio de Janeiro, com 3,500 kg e 51 cm. Ele foi examinado enquanto eu levava três pontos devido a uma pequena laceração. Márisson foi com ele ao berçário para pesar e medir. Lá fizeram uma rápida higiene nele para vesti-lo. O primeiro banho foi somente no dia seguinte, no nosso quarto e foi o pai quem deu.

 

Uma vez li que o parto ideal é aquele que a mulher escolhe. E um parto empoderador é aquele em que a mulher supera os seus próprios limites, indo mais longe do que imaginou.

 

Uma vez me desejaram que eu tivesse um parto cinematográfico. E assim foi.

 

Se outras pessoas o consideram, eu não sei. E nem me importa. Pois eu me superei! Superei meus limites e meus medos, superei meu nervosismo e minha ansiedade. Superei principalmente minhas expectativas e pari feliz meu lindo menino. Assim foi o meu parto cinematográfico: um filme de amor com muita emoção, ação e com final feliz.

 

O relato de parto do ponto de vista do Márisson:

 

Bem, agora que a Renata já relatou passo a passo o parto, vou contar a minha visão desse período e a forma que eu encontrei para vivê-lo da maneira mais intensa que é possível pra um homem. Tudo foi muito facilitado pelo fato da Renata ter tido a gravidez mais perfeita que alguém pode esperar: sem enjôo (bom...), sem cansaço (muito bom...), sem azia (excelente...), apenas 6 quilos a mais (um sonho...) e nenhuma estria (êxtase!!!). Pra isso, além da predisposição da Renata, dois outros fatores foram muito importantes: caminhamos regularmente até o final da gravidez e fizemos yoga. Com essa tranquilidade, pudemos dedicar bastante tempo pra nos informar, e sobretudo, curtir.

 

Buscamos o máximo de informações possível em várias frentes: em sites, nas listas e em diversos livros. Acho que lidamos muito bem com todas as informações que encontramos, filtrando as que nos pareciam equivocadas, sem fundamento ou aquelas baseadas em fundamentos místicos ou religiosos.

 

Acho que a Renata às vezes pendia um pouco para um certo naturalismo que eu achava exagerado, o que gerou algumas discussões, que no final, foram bem proveitosas para que fizéssemos conscientes nossas escolhas.

 

O que isso tem a ver com o parto? Isso foi fundamental para que eu estivesse tranqüilo durante todo o TP (e toda a gravidez).

 

.. era como se aquilo fosse um roteiro que eu conhecia de cor e isso me deu segurança. Tudo foi vivido com uma tranquilidade surpreendente e muita alegria.

 

Durante o TP, quando as contrações foram ficando mais fortes e com intervalos menores, a Renata procurava sempre andar durante elas, porém a posição de cócoras ou abaixada não pareciam muito confortáveis. Uma boa parte do tempo ela passou sentada na privada e eu ao lado dela, sentado na lixeira fazendo uma leve massagem (acho que mais um carinho) na base da coluna. Durante as contrações eu procurava apóia-la e lembrar algumas coisas que a gente tinha aprendido durante a gravidez: sugeria algum tipo de respiração ou movimento ou apenas falava alguma palavra de encorajamento, sempre tentando passar a ela segurança e tranquilidade (que eu estava efetivamente sentindo).

 

Todo esse período das contrações, a Renata passou sem um grito, com uma serenidade surpreendente e, sobretudo, uma dignidade que fazia aquilo tudo ser algo maravilhoso. Era como se nós estivéssemos vivendo uma espécie de processo, um ritual, que pra mim (e tenho certeza que pra Renata também) era muito primitivo, muito prazeroso e rico. Eu não tinha como viver sem passar por aquilo. Eu tive uma sensação, que nunca tinha tido antes, de que eu fazia parte do mundo, de um planeta vivo – sei que parece meio maluco, mas é como eu consigo descrever a forma como eu tava vendo e vivendo aquele momento.

 

Tudo continuava seguindo seu rumo natural e perfeito até que apareceu o anestesista. O que era o anestesista?! Ele estava totalmente fora da sintonia da gente, falava alto, fazia piadas sem graça. A Renata simplesmente o ignorou (aplausos!) e eu procurava dispensá-lo gentilmente quando ele entrava no quarto.

 

Vencida a etapa do anestesista, chegou a hora. Fomos então para a sala de parto e todos estavam bem tranqüilos. A Renata só reclamou quando a cama estava sendo preparada: o médico demorou a sentá-la e ela achou que ia ficar deitada.

 

Bom, foram então mais algumas contrações e mais força e o médico pediu que eu empurrasse a barriga dela para o centro durante a contração para melhorar mais a posição do Teo e facilitar a saída. Eu falava perto do ouvido da Renata: “vamos lá que é hora do nosso filho chegar, vamos botar em prática tudo que a gente aprendeu, chegou a hora!”

 

Quando o Teo já estava começando a coroar, o médico me chamou para vê-lo ainda dentro da Renata e eu vi uma pequena parte da sua cabecinha. Quando a Renata deu um grito forte, a nossa criança finalmente chegou, sendo logo colocado no colo da Renata. Nessa hora eu repetia pra ela: “o nosso bebê chegou Rê, o nosso filho, você conseguiu, você merece muito isso!” Eu chorava muito e ela também. Não me lembro do choro do Teo embora saiba que chorou bastante.

 

Eu não sei descrever o que eu senti naquele exato momento, mas posso dizer que foi diferente e melhor do que tudo que eu tinha vivido até então. Lembro, entretanto, que além da alegria de ver o meu filho bem, eu sentia ali muito orgulho de mim mas sobretudo na Renata: ela tinha sido simplesmente fantástica. Passou pelo parto com tranquilidade, força e sobretudo dignidade impressionantes. Fez aquele momento que nos filmes é sempre corrido, nervoso ser só “natural”. E lindo!

 

Não sei se teria sido pior se tivesse sido de outra forma, porém foi perfeito do jeito que foi. Não sou contra anestesia, episiotomia, cesárea ou qualquer outro procedimento médico que se faça, desde que a mulher (embora ache que nós homens possamos e devamos participar, certas decisões devem ser tomadas em última instância pela mulher) seja bem informada para analisar diante dos prós e contras aquilo que lhe parece mais conveniente e capaz de atender melhor suas expectativas.

 

Porém, como já disse antes, o processo do parto do jeito que foi despertou em mim algo de primitivo, animal mesmo, que me fez sentir muito forte, vivo. Pode parecer estranho eu sentir isso pois afinal quem estava parindo era a Renata, mas eu me senti responsável e parte daquilo o tempo todo, talvez por ter participado muito da gravidez e ter sempre desejado muito ter filhos.

 

No fim, os principais sentimentos que ficaram foram a alegria pela saúde e lindeza do nosso neném, o orgulho pela minha tranquilidade e pela força da Renata e a certeza de ter tomado decisões corretas: ter apoiado a Renata para o parto normal e sobretudo tê-la escolhido para mãe dos meus filhos.

 

 

Renata Rose

Rio de Janeiro – RJ

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